Ele
sentou-se na sua mesa. Observou-a. Na extremidade frontal da mesa, um pouco a
sua direita, estava um pequeno calendário. Daqueles que você destaca os meses
que vão se passando. Novembro acabara a dois ou três dias, mas ainda estava no
calendário. Calendário daqueles que se ganha de brinde todo final de ano.
Daqueles de empresas, de papelaria, de lojas de informática.
Novembro
acabara de acabar, e ainda estava no calendário.
Ele
o pegou e retirou o bloquinho de meses, que agora só restava duas folhas. E uma
delas já não tinha mais valor.
Talvez
por besteira, por uma desnecessária nostalgia, ele se viu apenas observando
Novembro, antes de destacá-lo do calendário.
Veja
bem, não era uma simples nostalgia por Novembro, ou apenas saudades de
Novembro.
Era
o susto. Era o sentimento de impotência. Era de certa forma o desespero. O
Tempo é imperdoável e nós somos negligentes demais. E ele se deu conta disso,
quando pegou Novembro pela ponta da folha e vagarosamente destacou-o do bloco
de meses, que há apenas onze meses atrás estava cheio, e Janeiro estampava a
expectativa do que seria desse ano.
Destacou
Novembro, para Dezembro o encarar.
Mais
um ano que voou, alguns diriam. Mas para ele era mais que isso. Seus
pensamentos vagaram e se deram conta de como cada ano era mais rápido em voar.
Ele odiava ser nostálgico, mas no fundo era o que o alimentava. Não conseguia
se desapegar por completo do passado. E a cada ano, a cada mês, se tornava um
passado mais e mais nublado. Mais distante. Estava naufragando no mar da sua
memória. E isso o amedrontava.
Dezembro
o encarou e perturbou seus pensamentos, numa simples Quinta-feira.
Eu sou a metade do que
queria ser quando me imaginava com a idade que estou hoje?
Talvez
não. Com certeza não. Dolorosamente, não.
Mas
quando ele era mais jovem e se imaginava com a idade que tem hoje, parecia que
este hoje ia demorar demais pra chegar. E de repente, como um golpe bem achado,
Dezembro estava lhe socando a boca do estômago. E doeu.
Ele
se sentia lesado, roubado, amedrontado. Assustado demais para pensar. É como na
famosa charada, o Tempo a tudo devora. E agora estava devorando um pouco da sua
esperança. Se alimentando do medo crescente. Queimando em brasas, assim como
queimou em brasas as outras onze folhas daquele bloquinho que chamam de
calendário.
Dezembro
insistia em encará-lo nos olhos, não desistiria. Por isso mesmo ele recolocou o
bloco de meses dentro do plástico e o devolveu ao seu lugar na mesa.
Pode
parecer apenas uma pequena besteira numa manhã de Quinta-feira. Mas o simples
fato de renovar um mês no calendário o fez pensar. E o fez, depois de um tempo,
voltar a fazer aquilo que ele era melhor.
Ligou
o computador, abriu o programa de criação e edição de textos. E de forma rápida
e atrapalhada começou a escrever...