quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dezembro

Ele sentou-se na sua mesa. Observou-a. Na extremidade frontal da mesa, um pouco a sua direita, estava um pequeno calendário. Daqueles que você destaca os meses que vão se passando. Novembro acabara a dois ou três dias, mas ainda estava no calendário. Calendário daqueles que se ganha de brinde todo final de ano. Daqueles de empresas, de papelaria, de lojas de informática.
Novembro acabara de acabar, e ainda estava no calendário.
Ele o pegou e retirou o bloquinho de meses, que agora só restava duas folhas. E uma delas já não tinha mais valor.
Talvez por besteira, por uma desnecessária nostalgia, ele se viu apenas observando Novembro, antes de destacá-lo do calendário.
Veja bem, não era uma simples nostalgia por Novembro, ou apenas saudades de Novembro.
Era o susto. Era o sentimento de impotência. Era de certa forma o desespero. O Tempo é imperdoável e nós somos negligentes demais. E ele se deu conta disso, quando pegou Novembro pela ponta da folha e vagarosamente destacou-o do bloco de meses, que há apenas onze meses atrás estava cheio, e Janeiro estampava a expectativa do que seria desse ano.
Destacou Novembro, para Dezembro o encarar.
Mais um ano que voou, alguns diriam. Mas para ele era mais que isso. Seus pensamentos vagaram e se deram conta de como cada ano era mais rápido em voar. Ele odiava ser nostálgico, mas no fundo era o que o alimentava. Não conseguia se desapegar por completo do passado. E a cada ano, a cada mês, se tornava um passado mais e mais nublado. Mais distante. Estava naufragando no mar da sua memória. E isso o amedrontava.
Dezembro o encarou e perturbou seus pensamentos, numa simples Quinta-feira.
Eu sou a metade do que queria ser quando me imaginava com a idade que estou hoje?
Talvez não. Com certeza não. Dolorosamente, não.
Mas quando ele era mais jovem e se imaginava com a idade que tem hoje, parecia que este hoje ia demorar demais pra chegar. E de repente, como um golpe bem achado, Dezembro estava lhe socando a boca do estômago. E doeu.
Ele se sentia lesado, roubado, amedrontado. Assustado demais para pensar. É como na famosa charada, o Tempo a tudo devora. E agora estava devorando um pouco da sua esperança. Se alimentando do medo crescente. Queimando em brasas, assim como queimou em brasas as outras onze folhas daquele bloquinho que chamam de calendário.
Dezembro insistia em encará-lo nos olhos, não desistiria. Por isso mesmo ele recolocou o bloco de meses dentro do plástico e o devolveu ao seu lugar na mesa.
Pode parecer apenas uma pequena besteira numa manhã de Quinta-feira. Mas o simples fato de renovar um mês no calendário o fez pensar. E o fez, depois de um tempo, voltar a fazer aquilo que ele era melhor.

Ligou o computador, abriu o programa de criação e edição de textos. E de forma rápida e atrapalhada começou a escrever...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Adorável lembrança

Adorável lembrança
De um dia de Inverno
Onde toda a nossa dança
Fez do meu sorriso interno

Adorável lembrança
De uma risada escondida
De um olhar de criança
Um dia toda perdida

Adorável lembrança
De quem realmente importa
E de toda a minha cobrança
Que me vale e me corta

Adorável lembrança
E de lembrar-se de ser amado
E fazer sorrir a esperança
De um dia ser o seu lado

Adorável lembrança
De um horizonte impossível
Da minha torta andança
De um futuro crível

Adorável lembrança
Dos sons da noite
Do grito da confiança
Se perdendo na foice

Adorável lembrança
Doída e bela
O sentimento que balança
Entre a dor sincera
Entre o céu e a cratera
Entre o sol em esfera
E a dor em espera.
Adorável espera.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Puro

E então o mundo parecia menor.
E as cores pareciam empalidecer.
E a vida parecia sem amor
E os sonhos distantes.
E a luz parecia se apagar.
E os sorrisos insistiam em morrer.
E os braços pareciam fugir.
E a coragem começava a ruir.
E o medo crescia alto.
E os olhos pareciam chorar.
E os dias começavam a gelar.
E as angustias faziam-se sentir.
E todos pareciam virar-se.
E a dor de ser só.
E a dor de ter dó.
E a dor de ser só mais nada.

E era puro.
E era nada.

E era tão fácil ser feliz.
E quando percebe-se que é apenas necessário lembrar-se de como...
E quando tudo caiu.
E as lágrimas viraram rios.
E as fábulas se tornaram reais.
E o amor pareceu mentir.
E quando eu te vi.
E quando você me ouviu.
E quando a gente se lembrou.
E quando a gente se amou.
E foi quando eu me lembrei.
E você me fez sentir.
E quando eu te quis bem.
E você me fez feliz.
E quando tudo nasce.
E renasce.
E o mundo parece ser maior de novo,
e de novo...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dia pra Viver

Aqui estou novamente, eu que achava ser o fim.
Fingindo memórias, eu estive perambulando
Através de dias incontáveis de cinzas
Eu que sempre quis isso de novo

Renascendo, reconstruindo
Deixo as cinzas no chão
Deixo as armas em mãos
Lutando, vencendo
Ou a derrota vem crer
Hoje é o dia pra viver

Agora em pé
Agora pra viver
Agora em pé
E nunca mais viver em vão

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Horizontes Dourados


Desesperado para ver o sol, ou apenas um pequeno vislumbre de sua luz amarela. Os olhos clamam por novos horizontes, além das forças das pernas. Sente-se caminhar sobre nuvens, sente-se a vontade de gritar. Sonha-se com esperanças, de cores, sabores e tons.
O que fazer, se tudo parece passar à sua frente, rápido e intocável, irreversível. Como um caminho de formigas, onde uma operária corre em meio a milhões, perdendo-se de sua vista. Afundando num lago de insetos e patas e nada.
Onde estava ontem, transforma-se cada vez mais em alimento para a nostalgia, abrindo um buraco no estômago, enevoando o presente e fazendo-se temer o futuro. O que foi? O que é? O que será? As trilhas de formiga fazem e se desfazem, e os olhos ali, condenados a observar. Tudo passa tão rápido, eles pensam. E o “tudo” não passa de Tempo. Frio. Calculado. Inexorável. Como parar? Como fazê-lo demorar-se?, eles imploram. Mas essa maneira, não há. Há a maneira de aceitar. As formigas passam pelo caminho, assim como os anos correm aos olhos daqueles que os observam, ou mesmo daqueles que escolhem apertar as pálpebras, deitando-as sobre seus olhos. Fugindo, não custa tentar...mas custa falhar.
Talvez os passos de hoje sejam apressados demais para se dar valor ao pouco. Ou talvez julgue-se o pouco simples demais para se valorizar. Ou seja apenas tolice, comandando uma danação.
Ou ainda, talvez, alguém esteja rindo. Habitando horizontes dourados. Rindo daqueles que tomam o Tempo por uma simples ou grande aflição.