terça-feira, 10 de julho de 2012

Cadafalso

Os passos se tornaram pesados.
Os últimos.
A última valsa fantasma.
Os olhos procuraram o céu. Imagens do esquecimento tornaram-se claros como luz do dia.
O mundo pulsava dentro das suas veias.
Era fácil sorrir apesar de tudo...
Outra espiada no céu: para ele, as estrelas pareciam cair, como lágrimas flamejantes dos deuses.
Eu vou me lembrar.
Alguém guiava seus passos.
Conduzia mais do que guiava. Empurrava, na verdade.
E ainda assim, seu medo era tão visível quanto o ar.
Ar que era tomado por barulhos; por vozes; por gritos; por choro.
Mas ele apenas ouvia o silêncio. Do que importavam as vozes agora?
Era como um lago raso para se olhar, profundo para se mergulhar.
Seus pés tocaram a madeira. Ali estavam.

O Cadafalso. O laço. O carrasco.

Eu sorri por vocês.
Ele tinha medo de fechar os olhos. Medo de qual seria a sua ultima visão.
Lembrem-se de mim, pois um dia eu sorri.
Num último ato corajoso, ele contemplou a multidão.
Lágrimas. Lágrimas caindo. Lágrimas rolando. Dos olhos, nos rostos. Nos seus próprios olhos.
Lembrem-se!
Foi mais forte tudo aquilo, vencendo o medo.
Decidiu fechar os olhos.
Onde a escuridão se fez por um momento.
Para logo dar lugar às folhas do Outono.
Caindo...
Era tudo o que ele via, enquanto o laço encaixava-se no seu pescoço.
Elas, as folhas, caíam secas sobre o branco.
De olhos fechados ele estendeu o braço.
Assim, com a palma da mão aberta pra cima, como se pudesse pegar uma das folhas que caíam.
Abriu os olhos.
Percebeu que a reza havia acabado.
O chão de madeira estava úmido da chuva.
Olhou para a sua mão, que estava vazia, estendida à sua frente.
Olhou para o céu.
- As folhas do Outono já caíram?
Não houve resposta, a não ser pelo estalo do chão de madeira se abrindo. E ele caindo.

As folhas do Outono caíam naquele momento.
Mas não ali.

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