sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Olho do furacão

Amanheceu o dia seguinte. 
E bastou uma simples olhadela ao meu redor pra que o estrago fosse visto.
A tempestade veio, e veio forte, chocando-se diretamente com as estruturas de uma vida.
E ela foi forte, enquanto durou.
Os trovões trouxeram a insegurança, os raios carregavam o medo e o vento fortíssimo tratava de virar tudo de cabeça pra baixo. E choveu... como nunca havia chovido antes, causando traumas que nunca haviam sido causados antes. Foi a partir daí que eu comecei a entender a seriedade de tudo aquilo.
Não vou mentir, eu tentei ficar em pé. Ser (parecer) forte, inabalável, inatingível, indiferente. Mas foi tudo numa proporção gigantesca demais até pro meu grande, inflado e inflamado orgulho. Minhas pernas vacilaram, meus joelhos me traíram, meu orgulho esmoreceu. E no meio de tudo, era impossível imaginar se havia, ou como seria, o fim daquela inimaginável tormenta, pois era tudo intenso e dolorido demais pra acreditar que um dia deixaria de existir.
Quando pensei ter achado um abrigo seguro, percebi que ele era tão turbulento quanto lá fora e eu tentei me esconder. Como se a tempestade conseguisse ser evitada dessa forma... pelo contrário. Quando eu achei que fosse impossível piorar, a chuva se tornou mais volumosa, os ventos sopraram mais forte ainda e raios e trovões explodiam de segundo a segundo, só podia ser o fim. Quem mais pode aguentar tudo isso?
O abrigo, que não passava de um teto sem paredes, simplesmente voou para longe. E eu me vi onde nunca mais vou querer estar.
O olho do furacão era alto acima de mim, nas alturas além do céu, com suas paredes cinzas rodopiantes, repletas de partes da minha vida. Era ali, no centro de tudo, que eu estava, tentando teimosamente ser forte novamente. 
E quer saber, dessa vez eu consegui, ou as coisas aconteceram a meu favor... porque milagrosamente, enquanto eu encarava o olho do furacão sugar tudo ao meu redor, a tempestade foi se abrandando. Os trovões soavam mais distantes, buscando o horizonte. A chuva, que antes cortava minha pele, agora começava a abrandar. A parede do furacão começou a diminuir até sumir e no leste um resquício de sol surgia.
Do alto, pedaços da minha vida iam caindo ao meu redor, espatifando-se contra o chão, quase completamente destruídos, porém não irremediáveis. E logo após isso, silêncio.

Amanheceu o dia seguinte, com o sol lutando por entre as nuvens. Os cortes ainda doem. O trauma da tempestade ainda é vivo. E eu nunca mais vou me esquecer do olho do furacão.
Mas ele se foi, 
e eu estou aqui, 
juntando os destroços, 
indo de volta pra casa.