terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ziz

Assim eles nascem, assim eles morrem.
Assim eles vivem.
Num mundo ordinário, onde cada coração torna-se um vão para uma nova esperança se fazer crer. Se encolher entre eles.
E assim eles caminham. Amando e aprendendo, sorrindo e dizendo adeus. Aos olhos de todos, à preocupação de nenhum e ninguém.
Crueldade, ignorância e prazer, dividindo a mesma casca de poeira. Assim o vento sopra e eles se fazem sós. Uns aos outros, infelizes aos seus olhares.
Assim eles vivem, assim eles morrem. Esperando a liberdade de viverem por si próprios, mas apenas sobrevivem acorrentados a si mesmos. Ego e cegueira, sete bilhões deles...
E como contemplam as emoções, chocando-se com os sentimentos. E procuram uma mão vazia, na necessidade do apoio. E justificam o fracasso, culpando vontades alheias.
E o arbítrio, que um dia foi livre, tornou-se escravidão.
Esse mundo ordinário, transformou-se numa caricatura obscena de si mesmo. Uma auto-mutilação, onde todos cortam suas próprias asas, por terem medo de voar.
E viver, ser livre, amar e chorar. E um dia, liberto, morrer.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Avante

Quando o dia sorriu,
ele levantou-se em paz.
Quando a lua fugiu,
um breve nunca mais.

Olhos contemplando o horizonte,
não mais cair, não mais falhar.
Abriu os olhos, Avante,
e vida digna mesmo sem estar.

O último trovão rugiu,
e novamente azul torna-se o céu.
Um último pilar de medo ruiu,
o Sol vem e rompe-se o véu.

Uma respiração profunda,
sentindo a vida nos pulmões.
A face um dia imunda,
agora inspira novos corações.

Não houve Deus, não houve homem,
houve o orgulho e a coragem.
Não houve fé, ela está aquém,
houve ele, e ele mesmo...

Avante, sempre.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Língua Negra

Doce ilusão, alimenta o tolo sonhador.
No caminho onde seus passos vêm e vão,
buscando a certeza, que parece ter asas.

Doce ilusão, oferecendo visões, àqueles que clamam por realidade.
A mão estendida, feita de poeira.
A sombra no deserto, abrigando uma fera.

Doce ilusão, que queima quando descoberta.
Que ri quando desmascarada. Que chora quando desacreditada.
Que deita seus olhos sobre toda esta terra.

Doce, perfeita, inocente e cruel ilusão, que mora em cada um de nós.
Seus braços estendidos em abraço,
chamando por corações clamorosos.

Doce ilusão, de mãos dadas com a incerteza.
Caminhando juntas nesse mundo,
buscando por mim e por você.

Doce... e dolosa.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Cadafalso

Os passos se tornaram pesados.
Os últimos.
A última valsa fantasma.
Os olhos procuraram o céu. Imagens do esquecimento tornaram-se claros como luz do dia.
O mundo pulsava dentro das suas veias.
Era fácil sorrir apesar de tudo...
Outra espiada no céu: para ele, as estrelas pareciam cair, como lágrimas flamejantes dos deuses.
Eu vou me lembrar.
Alguém guiava seus passos.
Conduzia mais do que guiava. Empurrava, na verdade.
E ainda assim, seu medo era tão visível quanto o ar.
Ar que era tomado por barulhos; por vozes; por gritos; por choro.
Mas ele apenas ouvia o silêncio. Do que importavam as vozes agora?
Era como um lago raso para se olhar, profundo para se mergulhar.
Seus pés tocaram a madeira. Ali estavam.

O Cadafalso. O laço. O carrasco.

Eu sorri por vocês.
Ele tinha medo de fechar os olhos. Medo de qual seria a sua ultima visão.
Lembrem-se de mim, pois um dia eu sorri.
Num último ato corajoso, ele contemplou a multidão.
Lágrimas. Lágrimas caindo. Lágrimas rolando. Dos olhos, nos rostos. Nos seus próprios olhos.
Lembrem-se!
Foi mais forte tudo aquilo, vencendo o medo.
Decidiu fechar os olhos.
Onde a escuridão se fez por um momento.
Para logo dar lugar às folhas do Outono.
Caindo...
Era tudo o que ele via, enquanto o laço encaixava-se no seu pescoço.
Elas, as folhas, caíam secas sobre o branco.
De olhos fechados ele estendeu o braço.
Assim, com a palma da mão aberta pra cima, como se pudesse pegar uma das folhas que caíam.
Abriu os olhos.
Percebeu que a reza havia acabado.
O chão de madeira estava úmido da chuva.
Olhou para a sua mão, que estava vazia, estendida à sua frente.
Olhou para o céu.
- As folhas do Outono já caíram?
Não houve resposta, a não ser pelo estalo do chão de madeira se abrindo. E ele caindo.

As folhas do Outono caíam naquele momento.
Mas não ali.

sábado, 7 de julho de 2012

Renúncia


Os sonhos nunca estiveram mais distantes,
Mas a vida costuma castigar os desistentes.
Do chão do medo se levanta aquele que não teme mais errar.
E talvez aos tropeços aprenda que, por mais inalcançável que esteja,
o sorriso jamais morrerá nos seus lábios lavados por lágrimas.
Pois elas podem até escorrer pelo seu rosto, mas o gosto delas não será mais o amargo.
Nem o acre do seu próprio sangue deixará rastros pelas suas narinas.

É o novo passo que se faz, seguido de outros tantos
Caminhando sobre as pedras e seguindo.
É o condenado olhando o carrasco.
Mas dessa vez pelas costas.
Pois o futuro que parecia sentenciado,
agora não passa de um vazio sem sentido.
Então ele inspirará o ar da liberdade, sonhando mais uma vez os sonhos distantes.
Pois o horizonte parece estar mais perto agora que o passado não trava o seu avanço.
De braços abertos para o novo.
Apenas deixando o sol nascer mais uma vez, caindo pelo céu azul.
Caindo para renascer.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Poster

Aroma pestilento no ar.
Talvez seja exalado por você.
Pela sua boca.
Cuspindo palavras.
Sem ao menos saber o que elas significam.
E toda essa áurea de superioridade.
Buscando ser alguém que você nunca irá se tornar.
Eu vi um dia, atrás dos olhos que eu achava gostar.
Eu vi que a pessoa pedante buscava apenas me pisar.
Ah, eu me sinto mal em pensar,
nos dias que eu costumava perder pensando em você.
Mas não foram totalmente desperdiçados.
Eles me ensinaram a cheirar antes de abocanhar.

Aroma pestilento, subindo pelas minhas narinas.

Eu já tinha errado demais pra arriscar mais uma vez.
Por isso desisti.
Costumava pensar no que diria de mim.
Costumava me envergonhar quando pensava...
Parei de ser escravo da minha própria lembrança.
Vi que fiz tudo certo. Dos modos mais questionáveis.
Mas certos.

Ah eu vi o caminho que você tomou.
Sou feliz por não estar perto dele.
Espero que ele serpenteie até o seu objetivo.
E que um dia você tenha verdadeiros motivos para achar que vale mais que alguém.
Mas espero também que no fundo, você se dê conta um dia, de que nunca será melhor que ninguém.
Pois o seu aroma pestilento seguirá você, onde quer que seus passos te levem.

Adeus.


terça-feira, 3 de julho de 2012

Báltico

Talvez seja a hora de ir. 
Ou até mesmo de ficar. 
Talvez seja cedo pra se deixar levar. 
Talvez seja apenas a hora de continuar. Ou mudar, levantar. 
Talvez seja a hora de realizar e não pensar. 
Até mesmo a hora de tentar, uma última vez. 
Talvez seja a hora, ou talvez a hora ainda não seja perfeita.
Mas vale lembrar, a hora chega, e logo passa sem voltar...


E não volta mais.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ás

A tristeza de se deixar perder a palavra. Levada pelo sopro frio de uma tarde de Inverno. Nunca sairá da minha boca, nem meus olhos contemplarão seu sorriso ao ouvi-las. Pois um dia eu pensei em dizê-las, mas não tive coragem pra tanto. E como um rio caudaloso, perene no Tempo, o momento se foi, me deixando a companhia do arrependimento, selado pela eternidade de um simples adeus.

Voam. Caem. Morrem. Sempre.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

As Últimas Palavras

As últimas palavras...
Ninguém sabe quais serão, quando serão, as emoções que expressarão.
Uma palavra de carinho que permanece pra sempre, aquecendo o coração nas horas que a saudade chega.
Ou o último ato de desprezo, que martela a consciência até a morte, cavando um poço de arrependimento numa alma já sofrida e amargurada. Uma ferida que nem o Tempo pode amenizar, mas apenas trazer de estação a estação, como uma maré de lembranças doídas e sentimentos tristes, depressivos.

Amor ou ódio. Alegria ou raiva. Esperança ou desilusão.
Promessas não cumpridas. Um último desafeto.

Mas quem pensa nisso antes de magoar alguém? Você pensa?
Além de um momento de orgulho, sem se dar por vencido, querendo ser aquele que tem a última palavra. Você pensa que essa pode ser a última coisa que essa pessoa irá ouvir de você? A última lembrança gravada.
Pais, mães, filhos, amigos...antes de rasgar os corações deles com palavras, você pensa que podem ser as últimas?

Palavras o vento leva, dizem. Mas o arrependimento pode trazê-las de volta. Afiadas e dilacerantes.
Sem volta!

As últimas palavras,
tão importantes; tão banalizadas...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Arquitetos da Destruição


Avante afinal, é hora de erguer a cabeça.
Já há muito o que lamentar, mas meus olhos sempre alcançam um motivo maior.
E o coração obedece e segue rumo a uma armadilha.
Quando eu tento escapar, já é tarde.
Eu que estive esse tempo todo esfacelando estigmas, tentando reverter essa visão precária...
ora, não custava tentar.

Pois digo: a dor caleja. Se torna parte de você. Até que um dia ela vai embora e você sente falta da aflição que ela causava, mas que um dia virou conforto.
Sim, conforto. Um encosto pra ser usado. Uma desculpa pra ser armada. Um escudo.
Então você procura, inconscientemente, que ela retorne. Busca reviver as causas. Busca machucar aquela cicatriz fechada.

É quando você percebe que é refém.

Foi quando eu percebi que era refém.
Da culpa; do arrependimento; do passado.
Nada me atrai hoje, mais do que aquilo que um dia eu vivi.
Nada é mais triste do que entender isso um dia.
É como o Inverno se sobrepondo ao Outono. É como a escuridão roubando a vida. Um último suspiro dos sonhos. Deixam de ser sonhos, tornam-se pesadelos. Transformam-se nos arquitetos da destruição, construindo desilusões. Antes de serem sugados pelo Nada. 

Resta o cinza, mas de cabeça erguida.
Apesar de tudo, refazendo perspectivas.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Paredes Brancas

Agora abri meus olhos.
E nada pareceu mudar.
Eu queria mergulhar pelo céu.
E me ver livre dessa prisão.

Imaginando eu e você
Correndo, ou apenas andando
De mãos dadas na chuva
Eu queria apenas estar em outro lugar.

Ligo a TV, mas logo me arrependo.
E se começo a ler um livro, logo meus olhos se cansam
E então o Tempo parece brincar comigo,
rastejando-se como uma lesma.
As manhãs são vazias, as tardes solitárias.
As paredes brancas me encaram.
Um animal enjaulado.

A ironia é a melhor amiga da vida.
Atuam juntas nesta peça que poucos assistem.
Ela te trata bem e te afaga, pra logo em seguida
te derrubar como uma marionete quebrada.

E as duas riem disso tudo.
Deitado aqui eu posso ouvir as gargalhadas,
ecoando pelas quatro paredes brancas.
A vida e a ironia.
Elas bebem as minhas lágrimas,
e deleitam-se com a minha dor.

Mas quem as ouve agora
Além de mim e as paredes brancas?

terça-feira, 10 de abril de 2012

Noites

A noite é a pior parte.
Ela trás incertezas, medos, angustia e lágrimas.
Trás memórias e a vontade de querer voltar no tempo. 
Com a noite vem a fraqueza, aos que se permitem serem fracos.

E do que adianta a fraqueza, se em nada ela ajuda?
Do que adianta temer o que ainda está guardado pelo véu do futuro?
A noite cai, mas logo o sol rasga o horizonte novamente.
Queima o medo, trás a razão e a coragem ao coração daqueles que se deixarem levar pelo seu calor.
As noites são difíceis, mas elas são essenciais para que o dia traga renovação.

Hoje a noite vem me visitar,
mas eu espero ansiosamente pelo sol, para que me traga o dia.
E assim essa noite escura, irá acabar.

terça-feira, 27 de março de 2012

Menina

Pelo Tempo, os anos se passam.
Muitas vezes de forma imperceptível, mas inexorável.
Trazendo amadurecimento. Crescimento. Lembranças...
Uma batalha inelutável, apenas feita para se viver.

Os anos transformaram a garotinha em mulher.
E hoje a mulher sente falta de ser apenas uma menina.
Mas os sonhos estão a impeli-la, buscando realizá-los.
Não, não é fácil ser adulto. Sim, a infância poderia ter sido mais aproveitada.
Mas hoje essa mulher amadurece mais um pouco, como todos os dias.
E começa a perceber que a vida pode exigir mais do que gostaríamos de ceder.
A menina ainda existe e sempre vai existir dentro dessa mulher, que ainda tem muito a crescer, mas nunca vai se esquecer das lembranças e das alegrias de ser apenas aquela menininha.
E para os momentos difíceis da vida desta mulher, ela sabe que terá ao seu lado um apoio, uma voz de incentivo, ou de consolo, ou de conselhos, mas, independente de qualquer tribulação, uma voz de amor.

Cresce menina, um dia o mundo ainda será seu!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Novo

O sol já deveria ter nascido.
Já era pra noite ter caminhado.
O leste deveria estar clareando.
Onde está o novo dia?

As flores já deveriam estar abertas.
As cores deveriam pintar o cinza.
Os espinhos já deveriam ter caído.
Haverá um novo dia?

As mãos já deveriam estar unidas.
Os olhos olhando na mesma direção.
Os dedos já deveriam estar entrelaçados.
Por que não é um novo dia então?

Por que as luzes se apagaram antes do amanhecer,
Se tudo o mais permanece no escuro?
Por que o vento soprou as nuvens,
se o céu continua negro?
Por que as lágrimas clamam por perdão,
se o coração já não é mais um inteiro?
E o amor já habita outros ares...

Veja a hora, já era para o sol ter nascido.



segunda-feira, 19 de março de 2012

Nuvens

Realmente, os corações venenosos nunca mudarão.
E em meio aos tormentos e as palavras doloridas,
eu sonho com as estrelas e você ao meu lado.

E se um dia eu tentei cobrir meu rosto do sol,
se um dia eu amaldiçoei a lua,
foram em tempos passados, folhas já lidas de um livro que ainda toma forma.
Foram as lembranças. 
Foi o medo.
Solidão é um sentimento que traumatiza. Que apavora só de lembrar.
É um corte que cicatriza, mas dói pra sempre.

Não vou mentir, o sol ainda ofusca meus olhos, mas agora ele clareia a minha mente.
E o mesmo lugar que eu achava que eu não poderia viver, que eu não poderia ficar, hoje é o meu abrigo.
E o menino com coração de pregos aprendeu a viver. Aprendeu a amar. Chorou ao cair, e teve braços fortes para se levantar.
E se as nuvens trouxeram a chuva, logo depois elas abriram as cortinas cinzas
e me apresentaram o luar.





quarta-feira, 14 de março de 2012

Flores

Houve um dia em que eu achei que o resto dos meus dias seriam sempre escuros.
Novo demais, já não via mais cores pra que o céu fosse bonito, ao ponto de me tirar um sorriso.
Cru na vida. Menino ainda. Virgem para a maioria dos sentimentos.
Eu achava que sabia de tudo... sem nunca ter vivido nada.
Talvez fosse puro niilismo forçado da minha parte, talvez fosse apenas a imaturidade de uma mente voadora.

As infinitas e doídas cabeçadas que a nossa criancice nos submete, me fizeram confundir inexperiência com incompetência, e eu, fiquei a remoer atitudes perdidas e palavras arremessadas, ou não, no vazio.
Mas eu não sabia de nada, como ainda não sei de tudo.
Eu sei que as cores foram reveladas à minha visão meio obtusa da vida.
Sei que quatro anos varreram dezessete sem dó.
Me fazendo compreender que mesmo os momentos em que as flores murcharem e morrerem, outras florescerão novamente. No seu Tempo, na sua beleza, florescendo em vida.

Falando em flores... nem tudo são flores conosco. Não, definitivamente não.
Mas é nesses momentos que eu percebo que é você que eu esperava.
Foi você que me resgatou do marasmo da auto-culpa , da minha omissão em ser feliz. Faltava a outra parte, faltava a quem amar de verdade. Faltava o sorriso, e também as lágrimas, pois o que é a vida e a felicidade sem algumas lágrimas? É falsidade!
É, as melhores palavras ainda estão nas mentes e frases dos poetas, mortos e vivos, mas todas levam ao mesmo destino, o mesmo sentimento. Tentam explicar a complexidade do inexplicável.
Mas agora, é mais verdadeiro o amor do que a poesia.
E lembra quando eu falei que ainda não sabia de tudo?
Do que me importa, se o que eu sei é que eu amo você?


E olhe! Uma flor se abriu em cores. E nem é primavera ainda!

terça-feira, 13 de março de 2012

Palácio das Lamúrias

É isso.
Chegou o limite.
Acabaram-se todas as alternativas.
Dividiram-se todas as ramificações. De duas vidas que eram uma. De duas estradas que tinham o mesmo destino.

Carregando o fardo de uma promessa quebrada.
Para sempre.

É isso!
Ouça os choros dos que habitam o Palácio das Lamúrias.
Ouça o reprimir dos sonhos, jogados no mar.
Siga a luz, que morre no desespero dos malfadados.
Encontre-os despedaçados, os corações que eram um.
Eu vi, na noite calada, no frio da neblina, nos pântanos da alma, eu vi.
A lua que brilha opaca, esverdeada no céu.
Iluminando os doentios rostos, que se perderam no caminho.

Que era pra ser um, mas se dividiu em dois.
Ao que sobra, o desditoso.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Olho do furacão

Amanheceu o dia seguinte. 
E bastou uma simples olhadela ao meu redor pra que o estrago fosse visto.
A tempestade veio, e veio forte, chocando-se diretamente com as estruturas de uma vida.
E ela foi forte, enquanto durou.
Os trovões trouxeram a insegurança, os raios carregavam o medo e o vento fortíssimo tratava de virar tudo de cabeça pra baixo. E choveu... como nunca havia chovido antes, causando traumas que nunca haviam sido causados antes. Foi a partir daí que eu comecei a entender a seriedade de tudo aquilo.
Não vou mentir, eu tentei ficar em pé. Ser (parecer) forte, inabalável, inatingível, indiferente. Mas foi tudo numa proporção gigantesca demais até pro meu grande, inflado e inflamado orgulho. Minhas pernas vacilaram, meus joelhos me traíram, meu orgulho esmoreceu. E no meio de tudo, era impossível imaginar se havia, ou como seria, o fim daquela inimaginável tormenta, pois era tudo intenso e dolorido demais pra acreditar que um dia deixaria de existir.
Quando pensei ter achado um abrigo seguro, percebi que ele era tão turbulento quanto lá fora e eu tentei me esconder. Como se a tempestade conseguisse ser evitada dessa forma... pelo contrário. Quando eu achei que fosse impossível piorar, a chuva se tornou mais volumosa, os ventos sopraram mais forte ainda e raios e trovões explodiam de segundo a segundo, só podia ser o fim. Quem mais pode aguentar tudo isso?
O abrigo, que não passava de um teto sem paredes, simplesmente voou para longe. E eu me vi onde nunca mais vou querer estar.
O olho do furacão era alto acima de mim, nas alturas além do céu, com suas paredes cinzas rodopiantes, repletas de partes da minha vida. Era ali, no centro de tudo, que eu estava, tentando teimosamente ser forte novamente. 
E quer saber, dessa vez eu consegui, ou as coisas aconteceram a meu favor... porque milagrosamente, enquanto eu encarava o olho do furacão sugar tudo ao meu redor, a tempestade foi se abrandando. Os trovões soavam mais distantes, buscando o horizonte. A chuva, que antes cortava minha pele, agora começava a abrandar. A parede do furacão começou a diminuir até sumir e no leste um resquício de sol surgia.
Do alto, pedaços da minha vida iam caindo ao meu redor, espatifando-se contra o chão, quase completamente destruídos, porém não irremediáveis. E logo após isso, silêncio.

Amanheceu o dia seguinte, com o sol lutando por entre as nuvens. Os cortes ainda doem. O trauma da tempestade ainda é vivo. E eu nunca mais vou me esquecer do olho do furacão.
Mas ele se foi, 
e eu estou aqui, 
juntando os destroços, 
indo de volta pra casa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

É guerra

Eis que começa a guerra dos nossos tempos.
Onde os dedos trocaram os gatilhos pelas teclas, movidos pelo ideal de liberdade que nos tenta ser tirada.
Querem nos impor, querem nos barrar, querem nos comandar. 

Acabou!

As montanhas de dinheiro serão queimadas e a verdade que teima em ser escondida, será revelada.
Pois chega a hora do ataque. Milhões lutando, iniciando a revolta.

As batalhas épicas da nossa geração, não são com armas de fogo. Nem espadas e guerreiros sanguinários.
Não são movidas pela ganância, não buscam territórios, riquezas, poder.
Lutamos pela nossa liberdade.
Lutamos pelo nosso ideal.
É a nova Primeira Guerra, travada contra os poderosos.
E a escolha é reagir, ou ser alienado.
Não aceitar, ou engolir o que nos impõem.
É buscar a verdade, escondida pelo véu, ou ser mais um fantoche, vivendo a vida que nos mandam viver.
É lutar, ou ser mais um zumbi infectado pelo vírus da ignorância, vivendo no Mundo do Falso Moralismo, Da "Sociedade Perfeita".
Vivendo sob as mentiras e as cordas que os regem.
É hora de se levantar contra os grilhões dos manipuladores.
Guerreiros anônimos, derrubando os Senhores da Mentira.
   
E se essa guerra nos deixa escolhas, eu escolho lutar.
E você?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Nosso Lugar

Era apenas um lugar.
Distante, frio, penoso.
Um lugar para não estar.
Ao lado do rio, Doloroso.
Cinza no céu, cinza na terra.
Onde por todo o chão
A vida por vida berra.

Mas não mais.

Lembro da chuva caindo.
E os pingos que molhavam seus cabelos.
Por entre as árvores a água fluindo.
E seus olhos refletindo como um espelho
O balé das gotas infindáveis.
Dançando por entre nossas mãos
E nisso os pingos foram hábeis,
Deram-me um motivo, uma razão
pra que ficássemos juntos, abraçados.
Libertando o amor, a paixão.
Mesmo que com apenas um olhar
Transformando todo aquele cinza
Num trecho claro e belo.
Para com você, e apenas você
Eu estar e pra sempre ficar.

Ao lado do rio,
No nosso lugar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Leviatã

Eis que das profundezas ele se levanta.
Para onde nunca mais irá voltar.
O Tempo nos dá os sinais, o Mais Temido despertou do seu longo sono.
Renovando a noção de medo. O demônio do mais profundo Inferno.
Os anjos irão chorar as tristezas dos homens. E compartilharão seus medos.
Pois, quem pode enfrentá-lo, sem que o medo se apodere da sua alma?
Quem pode matá-lo, sem perder a própria vida ao pavor de seus olhos?
Dos mares se levanta a Besta.
Leviatã é seu nome, e do mais escuro mar ele se ergue.
Eis que ele surge.
Temam, homens.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

4

Céu azul, ou nublado, não lembro. Perto do que estava para acontecer, isso não tem a menor importância.
Seus olhos brilhavam, castanho e preto, contrastando à luz do sol.
Eu sonhava com você naquela tarde. Um sonho real, que se realizava bem ali, do meu lado.
E eu...eu tinha lágrimas nos olhos, veja só, e naquele momento me senti um tolo.
Não queria que você me visse assim, frágil, derrotado, rendido ao fracasso. Escondi meu rosto.
Pois mesmo antes de te ter, eu já tinha medo de te perder.
Me escondi de você, mas eu devia saber que você não desiste fácil.
Me lembro perfeitamente do jeito que você se sentou ao meu lado e eu senti seu braço me envolvendo.
Eu me rendi. Toda a minha vergonha foi varrida naquele momento, junto com o medo.
Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali, sentados no chão, apenas abraçados e eu me senti feliz. Feliz como havia tempo não me sentia, ou talvez, como nunca havia me sentido.
Eu reuni a coragem e tomei a minha decisão.
E assim, eu (sim Eu) te beijei. Sentado naquele lugar, com lágrimas secas no meu rosto, eu te beijei.
Talvez não tenha sido aquele beijo de cinema, mas não importa. Naquele momento tudo se resumia a apenas eu e você, e à minha maior felicidade.

Desde o começo eu te amei, talvez até mesmo antes, se é que isso é possível.
E os anos só fazem esse amor crescer.
Pra sempre.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fogos de Artifício

E a contagem regressiva acaba, para tudo virar luzes.
O Tempo para naquele instante e o que era pra ser apenas o nascer de um dia novo, toma proporções muito maiores.
Sente-se o cheiro da pólvora que vem de todos os cantos e a fumaça brinca de ser névoa noite adentro. O Mundo é corrompido por explosões e o céu da meia-noite toma formas e cores que invadem os olhos e brilham. Brilham...
Novas promessas são feitas, enquanto as antigas e não cumpridas são esquecidas.
A palavra Felicidade vem fácil à boca, mas não toca o coração, pois não tem verdade nem amor que a sustentem. Abraços são distribuídos e são realmente abraços apertados, como somente esse dia do ano é capaz de proporcionar, como se todos os outros não valessem realmente a pena demonstrar carinho.

Pede-se amor, pede-se saúde, pede-se riquezas, pede-se descanso.
Mas o perdão é esquecido...

Nesse dia em que todos prometem o que não podem cumprir, e pedem mais do que merecem receber, eu quero apenas que a felicidade me acompanhe, mesmo que de longe em alguns momentos, pois dias nebulosos existem para serem vividos e momentos escuros chegam para serem vencidos.
Mas mesmo em meio às lágrimas o sol nasce para todos. O vento vem pra soprar as mágoas e tristezas, lembrando que pelo amor vale a pena lutar, pela vida vale a pena lutar, por alegrias e momentos felizes vale a pena lutar...
Por você!

Os fogos cessam, o céu volta à noite, e ao longe ainda é possível ouvir-se algumas explosões. O Tempo volta a andar, na verdade ele nunca tinha parado, mas em meio a devaneios, parece-me que ele me concedeu alguns minutos de sobra.

E de um canto qualquer alguém me estende a mão, me dá um abraço apertado, desajeitado: "Feliz Ano Novo!"