quarta-feira, 27 de julho de 2011

Catatônico

O lugar que costumávamos ficar, hoje está vazio.
As tardes que nos acompanhavam todos os dias, agora são tardes melancólicas. Que imploram pela nossa volta, vivendo de lembranças, vivendo, mas vivendo sem perceber.
E por quê? Já me perguntei por que os dias passam cada vez mais rápido. Quando aquele um segundo a mais de vida, ao mesmo tempo, pode se tornar o ultimo segundo. 
O tal ciclo, que deve ser renovado sempre, nos impôs que devemos aceitar o que ele quiser fazer.
Mas eu resisto. Ou tento resistir.

As memórias me ajudam, e ao mesmo tempo me destroem. E eu fico, no meio de tudo, estático às emoções que me rondam.
Comecei a viver no modo automático. Catatônico.

Maldito o dia em que eu descobri que a vida existe para a morte. E que a Morte, na verdade, é o fator que enobrece a vida, que a valoriza, e que nos faz temer o dia em que ela nos buscará.
Maldito o dia em que eu comecei a esperar o tempo passar.
Reclamando da rotina, eu me recolhi do Mundo. Passei a viver no torpor, em que nada mais parece ter importância.
Tornei-me dependente de mim mesmo. Dependente do passado, buscando reviver alegrias.
E no meio de tudo isso, eu busco lembranças nossas, dos nossos sorrisos, das nossas lágrimas, dos nossos abraços, e da nossa felicidade, pois eu tinha você e você tinha a mim. E nós tínhamos a felicidade, os planos e os sonhos.

A Morte te levou, e ainda sorriu para mim.
E hoje sou estático ao mundo, pois não tenho mais você.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Dono das Horas

Tempo. Tudo se resume à falta, ou desperdício de Tempo.
Nada é obra do acaso, mas o acaso é uma obra do Tempo.

Ele implorou por mais Tempo.
Sim, implorou por mais Tempo de vida, implorou por mais Tempo de amor, por mais Tempo de afeto, implorou até mesmo por mais Tempo de finais de semana.
Mas o Tempo é o mesmo para todos, implorar não o fará amolecer.
Justiça, seu maior critério, seu único compromisso.

Ele não soube usar o que lhe foi dado. Não soube aproveitar. Só pensou que o fim não chegaria tão cedo... Tão antes do Tempo certo.
O erro: o SEU Tempo NÃO é o certo. O seu Tempo é o que ELE determinar.

Os últimos minutos foram os mais rápidos. Parecia que era mais uma crueldade do Senhor das Horas.
Então, a voz dela se fez ouvir. Sussurrando, chamando-o, e mesmo caído, ele virou a cabeça, e ela estava ali. A Morte o encarou com lindos olhos cor de mel. Era uma menina, de não mais que quatorze anos. Uma linda menina, que levaria sua alma.
Aos prantos e espantado, ele ergueu a mão direita, pegou a Morte pelo pulso e disse:
- Você é linda!
A Morte, que para cada pessoa aparece de uma forma diferente, respondeu:
- Sou apenas a melhor visão para o seu último suspiro, agora descanse.
Ele rapidamente retrucou:
- Por favor, me dê outra chance, eu tenho muito a viver ainda. Muito tempo! Você, com esse lindo rosto, no fundo deve ser misericordiosa, bondosa, me dê mais tempo de vida, eu suplico.
A Morte olhou no fundo dos olhos dele. Cuidadosamente, livrou seu pulso da mão do homem e tocou a fronte dele com certo carinho.
- Humano você teve a vida para aprender que o Tempo te oferece aquilo que você merece. Ele te ofereceu a vida, e te deu um pedaço dele próprio, para desfrutá-la. Você aproveitou essa chance? Você viveu como se fosse o último instante? Você amou como se não houvesse amanhã? Você teve todos esses anos para perceber que todos nós vivemos em função do Tempo. Todos nós dependemos do que ELE nos dá. Até mesmo eu, a Morte, que dizem, sou soberana, tive que esperar o Tempo certo para vir buscá-lo.
Hoje eu estou aqui, como serva do Senhor das Horas, para te buscar.
Ele estava ás lágrimas. Tentou negociar com a própria Morte, mas nada conseguiu. Ela o fez ver o quanto ele desperdiçou a vida, o quanto ele menosprezou o Tempo que lhe foi oferecido. Sentiu raiva de si mesmo, e sentiu vontade de gritar, mas não tinha forças. Sentiu vontade de dizer para todas as pessoas que ele conhecia, para que elas vivam cada momento intensamente, mas já não lhe restavam muitas respirações. Ele, no seu leito de morte, se arrependeu de não ter enxergado isso a tempo. Nada poderia mudar aquilo.
Desta vez, ele olhou profundamente nos olhos da criança, nos olhos da Morte:
- Vai doer? Eu vou sofrer muito agora?
A menina de olhos de mel sorriu graciosamente. Pegou a cabeça do homem, encostou-a no seu peito, acariciou os cabelos castanhos dele e disse:
- Você teve a vida inteira para sofrer. Agora eu prometo te levar em paz.
Ele sorriu com lágrimas nos olhos. Suas últimas palavras foram:
- Você não é tão cruel assim.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mãos solitárias

Já não me importa mais o Inverno. Já não me importa mais a ausência de cor. Já não me importa mais os olhares perdidos.
As minhas mãos agora andam sozinhas, desde que você se foi. Elas sentem falta do seu toque, do seu calor, do seu amor.
Eu sinto sua falta.

Abandonado no nada. Caminhando na vastidão da solidão.
A neve não é a melhor companheira, como você era. Ela castiga de dia, e me lembra que eu estou sozinho a noite.
As noites frias...

Quando a memória resolve me jogar lembranças, esfregando-as nos meus olhos. Lembranças turvas, porém carregadas sentimentos vivos, liderados pela mão fria e cruel da saudade. Que me atormenta, e que tira meu sono.
E que me faz ver como você é importante. O quanto sua presença me alegra, e, agora, a cada segundo de tristeza, me mostra o quanto eu preciso de você.

O dia precisa do sol. O Inverno precisa do frio. O deserto precisa de um oásis. O lobo precisa da lua.
E eu, meu amor, preciso de você.