quinta-feira, 31 de março de 2011

Os Olhos

O que você sabe sobre ela? Quantas vezes conseguiu perceber que ela agia? 
Você estava ocupado demais para dar atenção. Mas ela não se importou.
Tentou te demonstrar valor, e desejou ser reconhecida por você, desejou que você olhasse nos olhos dela. 

E apenas sorrisse...

Mas você não a viu. Ou preferiu não ver.
Preferiu olhar para o outro lado. 

Ela pensou pensou em desistir.
Pensou em te abandonar. Em morrer dentro de você. Mas é como dizem, ela é a última a morrer.
Mesmo sabendo que você encarava o Desespero nos olhos, e dava a mão à Insanidade, ela te esperou.
Olhou uma última vez nos seus olhos, e pela última vez, chamou seu nome.
Alto e claro. E você ouviu...ah sim, você ouviu.

E pela primeira vez em anos, você a viu. E ficou deslumbrado. 
Pois ela te olhava com aqueles olhos verdes que penetravam na alma. Te davam animo, vontade, e talvez o mais importante: coragem.

Ela sussurrou no seu ouvido palavras que te motivaram a mudar, a fazer a diferença. A sair da cova com bordas lamacentas. Ela te ajudou.

Os olhos verdes da Esperança te buscam e você demora para perceber.
Mas ela não desiste de você. Apenas olhe para ela.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Árvore de Duas Folhas

Os laços foram desfeitos. A dança chegou ao fim. Não há mais motivo para continuar fingindo, dublando as falas de derrotados.
Não sobrou mais tempo para tentar retomar do começo. Iniciar novamente um ciclo sem fim, onde tudo sempre volta pra sua perfeição, meio disforme.
Não há mais nada que possa salvar o que um dia parecia ser a salvação de tudo. Não há mais condição de levar adiante. Os atos já não condizem mais com as palavras, que lá atrás um dia fizeram parte de um juramento. Testemunhado; autorizado; reconhecido.
As folhas que ficaram boa parte das suas vidas juntas na mesma árvore, uma ao lado da outra, caíram no outono que veio; separaram-se, desuniram um ramo, abandonaram a árvore que um dia lhes deu frutos. E seus frutos ficaram sozinhos.
A árvore de duas folhas, perdeu a fonte que lhe dava vida.

terça-feira, 29 de março de 2011

Dia Anoitecido

As nuvens negras vão se aproximando; o vento vai soprando cada vez mais forte,
arrastando as folhas, entortando as árvores.
Um medo primitivo começa a surgir. Aquele que é sentido no estômago.
A natureza mostra a sua cara e nós tememos isso.
Tememos suas demonstrações de poder; sua fúria incontrolável. Incomparável.
No nosso íntimo desejamos que tudo passe logo; que o dia seja DIA novamente,
e que a noite se contente com o tempo que foi reservado à ela.
Desejamos mais do que nunca que o sol, e todo o esplendor do seu reinado, nos sorria e nos esquente novamente. E que afugente o pavor de ver o céu negro.

Pois hoje as nuvens negras adiantaram a chegada da noite.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Pesadelos em Você

Acordar de um pesadelo e não voltar pra realidade,
pensando estar livre dos medos e angustias que deveriam ser deixados para trás.
Mas não, talvez aconteça exatamente o contrário.
Acorde, viva o pesadelo. Busque uma cura para o seu temor.

Não apenas um sonho ruim,
mas um desastre na forma da realidade.
Que completa, ou desfaz você,
depende do seu modo de enxergar.
Mas não depende da sua vontade.
Sem escolha.

É o acontecimento, é o que tem.
É tudo aquilo que você sempre sonhou NÃO ter;
nem ver acontecer.
É o que te atormenta naquelas noites, que são claras como o meio-dia.
Não tente fechar seus olhos, não vai adiantar,
não tente buscar uma mão; elas se recolherão.

Não tente olhar nos meus olhos, nem me implorar ajuda.
Eu não estarei ao seu lado.
Mas talvez ela esteja.
Rastejando dentro de você. Buscando você.
Entrando pelas suas veias; o que há de mal nisso?

Lembre-se, há uma grande diferença entre o acordar e o abrir os olhos.



Vivendo à margem. Você escolheu assim.
Acorde, viva você.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sei Amar

Pode ser que o erro já estivesse sido cometido antes de você aparecer.
Ou não sobrasse mais tempo para gastar com lamúrias, que nunca cessam.
Sabendo que os olhos anseiam por serem olhados; eu já sabia amar antes disso.
O arrependimento é uma forma fácil de querer ser forte. Todos tentam.

Mudar o profundo é mais cruel do que pode parecer. Requer tempo, atos, lágrimas, sacrifícios...

e dor.

Infelizmente,
eu estou enjoado disso. Não sei mais não estar.
Não sei fingir. Só sei amar.
Eu já sabia amar antes. E vou continuar sabendo.
Vou continuar amando.


Amando você!

terça-feira, 22 de março de 2011

A Rainha do Mundo

Tentar ver a beleza onde ela não se encontra
é como tentar bloquear o sol durante a noite.
É como sentir-se inútil por não conseguir ter uma sombra
num fim de semana de lua nova

Nada mais pode ser poetizado.

Não me resta mais tempo.
Não me resta mais vontade.
Só resta a ira.

Não. Hoje não vou perder palavras,
nem tentar formá-las em frases de efeito.
Hoje não vou imaginar o que vão pensar de mim.
Hoje eu só estou aqui, e mais nada.

Pois nada mais pode ser poetizado.

Tudo não passa de cópia.
Plágio; descarado e sem vergonha, de tudo que já foi criado. 
E que lei nenhuma vai impedir de existir.
Nem a lei da natureza.

Onde estão aqueles que tentam nos enganar?
Desfarçados de intelectuais,
mas que na verdade não passam de
mentes mancas que não conseguem ser originais.

Ninguém me ouve, mas eu te digo:
Nada mais pode ser poetizado nesse Mundo,
a não ser a Morte. Sim com "M" maiúsculo.
Soberana e fria, no seu Trono de Pavor, inevitável como só ela pode ser.
Arrebatando almas para sempre.
Nós a poetizamos todos os dias,
quando vamos deitar e pedimos para que Deus nos livre dela.
A Rainha do Mundo.

Mata homem; mata animal.
Mata a mente
Mata o amor...


Nada mais pode ser poetizado.
E isso não é poesia.



quinta-feira, 17 de março de 2011

Dia de Guerra

Eu tremia demais.
Incrível eu me lembrar disso, mas eu tremia muito. Não sei se era medo, ansiedade por ver o inimigo chegando, ou até mesmo pavor...só sei que minhas mãos estavam incontroláveis naquela manhã chuvosa.
Eu suava muito também. É realmente estranho pensar que, apesar de tantas coisas acontecerem naquele dia, eu me lembre perfeitamente de pequenas coisas que, no contexto geral, não tenham a mínima importância.

Mas num dia de guerra, a mente se abre e a memória grava tudo.

Corpos por todos os lados, alguns mutilados, outros não. Sangue na água, maculando uma terra que sempre viu somente a paz. E eu estava ali, trazendo o desespero e a morte, com um dedo no gatilho e granadas nas mãos. Os trovões se juntavam aos tiros e explosões, formando uma sinfonia um tanto macabra. Cruel!
Soldados e mais soldados que nem se lembravam mais como eram seus lares. Famílias que há muito haviam sido deixados pra trás. Soldados que rezavam todas as noites para que vivessem mais um dia, somente mais um dia e todos os outros possíveis.

Mas UM dia é muito na guerra.

Naquele dia eu vi amigos caírem, agonizarem, chorarem pedindo suas mães como bebês perdidos. Eu vi inimigos chorando, de joelhos implorando pela vida.

Mas na guerra, não há espaço para a misericórdia, nem o arrependimento.

Eu matei, confesso. Matei e na maioria das vezes eu gostei de matar. Mas não nesse dia. Nesse dia eu não queria estar lá; não queria matar ninguém, não queria ver amigos nem inimigos caírem.

Mas minha vida dependia do fim de outras vidas. Por isso matei. Por isso vivi.

Dentre todos os dias de guerra, esse dia é o que eu menos gosto de lembrar, mas é o dia que sempre me atormenta quando me deito pra dormir. E vai ser pra sempre assim.

Quem viveu um dia de guerra sabe como é.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Escritor

...e ele escreveu:

Um dia me disseram que os sonhos não valem a pena. E eu parei de sonhar.
Comecei a viver apenas por viver, sem motivação sem vontade de ser alguém, ser apenas o Humano que ficou separado do Ser. Eu me entreguei.
Como se a minha vida fosse a vista de uma janela que só me mostra o lado negro e mais profundo do nada. O fim; o sem fim; o precipício; a escuridão; o ápice do medo e da solidão que me tragam de uma forma que eu não consigo, e nunca conseguirei, posso afirmar, escapar. Pelo menos não ileso, nem são, nem a alma, nem o espírito, nem o corpo, nem a mente que habita o barro que é o homem.
Eu me via só, mesmo rodeado de amigos; eu me via triste, quando meu rosto mostrava um sorriso.
Falso!
Eu me via enjaulado, mesmo quando corria nos campos mais verdes e frescos. Preso à mim mesmo, sem poder escapar, sem poder negociar, fazer um acordo, me libertar. EU MESMO me prendia. e de novo, eu me entreguei.

NÃO seja igual a mim. Eu te imploro, seja um sonhador. O que mais nos motiva a viver do que os sonhos? Pra que mais estar aqui senão pra buscar um objetivo; e não, nunca venha me dizer que seus sonhos acabaram pois eles nunca acabarão, não se você não desistir de sonhar.
Deixe de olhar a janela do precipício e olhe para a porta dos sonhos e faça de você uma pessoa que ama sonhar e conseqüentemente ama viver. Pois muitas pessoas gostariam de ter a mesma oportunidade que você. Sonhe!

E depois de ler o que tinha acabado de escrever ele pensou como isso poderia ajudar alguém. O Escritor nunca iria saber. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Como antes

Eu não faria nada diferente. Se meus atos no passado me definiram como sou hoje, eu nunca mudaria nada. Nada! 
Talvez eu seria tentado a não dizer algo, ou ser corajoso pela primeira vez na vida e tomar as atitudes que não tomei. No momento que deveria ter agido da forma mais racional, ou mais emocional, ter agido.

Eu não mudaria.

Talvez minha mente de criança não entendesse que naqueles tempos eu estava construindo tudo que sou hoje, e que hoje eu construo o que serei deste momento em diante.
Certo ou errado, eu sei que sou mais do que um dia imaginei ser. Pro bem ou mal, eu nunca mudaria nada. Nunca!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Valor

Eles me olharam e se perguntaram o que poderia sair daquela mente que parecia pobre, ou até mesmo fraca para tentar expressar humores e sentimentos em palavras.
Eu apenas escrevi, como se o Mundo fosse meu, como se eu estivesse sozinho escrevendo à luz de velas e nada mais pudesse escutar minha respiração. Quando minhas mãos suavam o lápis (pois nada como escrever com um lápis) eu levantei meus olhos e imediatamente eles me encararam como se esperassem uma erupção iminente de um vulcão adormecido. Mas era somente eu que estava sentado ali, vendo-os me olhar com um misto de desprezo, revolta, e uma certa surpresa.
Eles pegaram meu papel, e ali naquela sala ficaram decepcionados pois na verdade tudo que eu tinha escrito era um simples: Queria que ela estivesse aqui agora e me visse ser observado do modo que sou agora, pois ela sempre me dizia que um dia todos me dariam valor. 
O papel passou de mão em mão e quando a última pessoa leu, eu consegui fechar meus olhos lacrimejantes e descançar, para sempre.

terça-feira, 1 de março de 2011

De Mãos Dadas

E se houve um dia que eu andei pensativo demais pra prestar atenção ao mundo, que a cada segundo respirava esperando o fechar das cortinas?
Se cada vez que ela piscasse os olhos, era como se fosse uma contagem regressiva para mim. Eu sei que poderia ter sido diferente...se eu apenas tivesse prestado mais atenção!
Eu nunca poderia aceitar que um dia ela me olharia daquela forma, com pena e com ódio ao mesmo tempo, apenas esperando que eu me entregasse ao inevitável, pensando em como a vida tinha sido malvada e doce com ela.

A vida, nossa anfitriã nesse mundo em que nem sempre queremos estar.

Ela sempre soube que não seria mais uma. Sempre soube que faria a diferença, mas nunca teve certeza de que forma. Uns diriam que foi da forma mais bela possível, outros te dirão que foi da mais inexplicável. Pois eu te digo: foi da forma mais original e inédita possível. Um pôr-do-sol coroado por um céu estrelado.
Se divaguei nesse breve rascunho me perdoe, mas o ímpeto de contar algo é mais forte do que o meu bom senso, ou vergonha. Algo que aprendi com ela, que me sinto envergonhado e entristecido pois estive pensativo demais para notar que a felicidade estava de mãos dadas comigo.