terça-feira, 16 de março de 2010

Goteira

Sou eu, e meu teto
Minha casa, meu lar
o lugar que tenho com afeto
Sou só, só eu e meu teto

Sou eu, meu teto e um buraco
Disforme, pequeno mas grande, ingrato
Se fez num dia e ali o deixei
Sozinho não se fecha, ah isso eu sei

Com o tempo aprendemos a conviver
Bem ali, acima da mesa
impossível não ver
Até virou meu companheiro

O buraco me quer bem
Talvez bem como ninguém
De dia me mostra o sol
A noite a lua que vem

Parece sem graça, mas daí vem a chuva
Milhares de gotas, uma por uma
O buraco vira porta, ideal para uma gota
Então logo elas se juntam e formam uma poça

Ouço elas chegarem quando batem na mesa
E logo se transformam numa minúscula represa
Cada batida pra mim é um canto
Como tambores africanos e seu bantu

Se fez e ali ficará
Um novo amigo que agora tenho
Talvez um dia ele se expandirá
E toda a chuva caia aqui dentro

Sou eu, o teto, o buraco, o dia, a noite e a chuva
Moro sozinho e desconheço modo melhor de viver.

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